sábado, 8 de maio de 2010


Numa Nuvem De Cores

Uma gota, apenas uma gota de água, basta para fazer uma nuvem. Num céu vazio e nu cabem muitas nuvens, muitas gotas de água. São águas, são nuvens, são anjos, que sobem ao céu e o fazem desabar corrente. São mares que vão e voltam. Rios, lagos e montanhas que os conduzem direitos ao céu. É a terra inteira lavada e mais a lua, de cara alevantada, água forte a escorrer pelos caudais, a lavrar sulcos na terra - regos de lágrimas cavados até ao sal, para apascentar rebanhos de homens-animais.
O verde, todo ele é nuvem. Nós somos nuvem. Somos árvore e azul. Somos o verde e somos o branco. Somos a ausência e a cor dessa mesma nuvem, mescla mar de todas as cores imaginadas. Somos o arco-íris metafísico, a luz existente aquém e para além dos cromatismos. Somos água. Somos água vertente. Somos margem e rio, inundação até ao próprio limite.
Provamos ser mar e divagamos, por entre vagas, navegamos até um porto onde os barcos nunca atracam e estão sempre a partir. E ficamos por lá, perdidos, de olhos cansados, no adeus da hora partida. Sentimos nela o reencontro, uma parte que não se sente sentida, apenas caminho para chegar, para ser e voltar a zarpar. Passamos pelo mundo e não passamos, vagueamos farrapos arrastados para um céu, que sentimos – sempre perto – e onde nunca chegamos.
Em qualquer dia previsto humanidade somos ser, no íntimo centrípeto do próprio ser, tentamos mudar (mudando) o mundo que somos e caímos em queda fútil no fundo do dever ser. Somos vida sobre-vivida quando apenas queremos ser afecto, água límpida, nuvem tombada, ao brotar de si própria; ilusão que se faz e se desfaz no céu e desaba na terra sobre as flores. E desaba connosco, intensos, porfiando até aos frutos, passando fios pelas nossas mãos cansadas de apartar, de espremer a alma até ao sumo dos desejos que sorvemos vãos.  As torrentes são águas abatidas sobre as nossas cabeças vagas, cadeias de elos ligadas pelos corpos nossos mergulhados, grilhetas apertadas por desejos nossos. Tão cumplíces e chegados, como os nossos beijos – nossos.

Joshua M.

Sem comentários: