sábado, 8 de janeiro de 2011
Crónica Benzodiazepina
Saber a que sabe uma vida normal
Quanto a transportes públicos citadinos, utilizo-os com muita frequência : são úteis à débil saúde das minhas finanças e têm utilidade nas andanças da cidade. É tudo. E a maior parte das vezes, é muito.
Fora isso, antipatizo brutalmente. Tendem a facilitar a vida, é verdade, mas não a favorecem. São como certos remédios: dilatam o tempo de vida, mas tiram-nos o brilho.
Dentro da gama dos citadinos vulgares, porém, devo dizer que tenho uma certa queda pela personalidade do autocarro. Acho que é a minha curiosidade meio enfermiça por dois grupos profissionais típicos da Lisboa trabalhadora: funcionários de repartições (não confundir com escritórios, ou pelo menos, não misturar) e lojistas. Reconheço-os bem, com os seus sacos de plástico (ou papel reciclado), que deixam no corredor, calças por cima do tornozelo (elas), sapatos de borracha (eles). Utilizam o passe social e fazem nascer certos ambientes dentro do autocarro, porque há odores comuns e há aquele tempo disponível, para partilhar. Diz-se alguma coisa, olha-se lá para fora. Vive-se uma normalidade estupidamente reconfortante. Querem sentir o que se sente com uma vida normal? Normalíssima? É apanhar o 44, ou o 45 no Campo Pequeno, por volta das 16.30h e ir.
Agora, não se queixem de falta elegância, ou glamour… não há milagres! Não é o 757 para o JFK e, como sabiamente diz o livro do João Villalobos, “As mulheres bonitas não viajam de autocarro”.
Iolanda Bárria
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