sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Verkitschen ist die U-Bahn
Estão lado a lado, sentadas no sofá de riscos transversais, presas ao objectivo que as trouxera até ali. Haveria uns dez minutos que chegaram a casa e se atiraram displicentemente para o aconchego da sala. Ele atiçara a lareira fazendo aumentar o calor; elas bebiam chá, falavam, de sexo, de coisas sem nexo, olhavam-se fixa e mutuamente, davam beijos com as palavras e sussurravam quase-palavras entre os beijos.
Ele queda preso à música, no terno menear dos corpos, calado e constante, observa, serve uma taça de Champagne, enrola um cigarro, observa, concentra-se nelas; elas umas nas outras, despem-se de pudor, puxam pelas roupas umas das outras, despojam-se dos panos estampados de preconceitos – uma camisa aqui, um sutiã ali, uma saia acolá, e todos objectos vermelhos do prazer espalhados por um chão em chamas.
O traje que resta traz a nova personagem: os lábios a desbotar, as meias pelo meio das pernas sempre compostas, os sapatos de bicos afilados, as tangas meticulosamente desviadas pelo toque – tudo são panos de Vénus em pele viva. Alguns minutos depois, as falas que saiem das suas bocas são apenas débeis vagidos, o mundo dança ao rodar em seu redor, e, ao alto e em baixo, as mãos estão por todo o lado coladas aos corpos que anseiam pelo tacto.
À flor dos tapetes fofos, o ansioso enleio dos corpos encerra o cenário: as bocas coladas pela línguas frementes, os abraços desfeitos em carícias, as pernas laços nos laços das pernas, as mãos leves que tocam, mais leve que o suave roçar de uma asa, o cerne do prazer. Os primeiros suores despertos brotam para redundar num incessante escoar do corpo. A atmosfera carrega-se de incensos breves, da fluidez dos odores, da insensatez dos perfumes cálidos.
No final, elas jazem num chão de brasas em fogo lento, sonhando: que riem, às vezes, discretamente; que estão acopladas ao sofá, com cabeleiras empoadas e blusas de chita florida e saias de tule negro; que servem chávenas de chá com leite umas às outras, até derramarem os liquídos sobre os corpos mornos.
Para elas, "Le seule difference entre le beau et le kitsch seront les temps", tal como a única diferença entre a realidade e a noite, apenas residirá no amanhecer de cada uma das suas fantasias. Para ele, a oclusão das lentes é o espaço que se constrói e se fecha à sua frente, o chão que lhe foge debaixo das ideias. Resta-lhe o ar que atravessa para juntar aos olhos a imagem de uma vida que fica presa num olhar perdido.
Joshua M.
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