quinta-feira, 30 de dezembro de 2010


A Chave

“É para ti meu amor”, disse eu como se tivesse feito uma escolha. Nesse dia passei na “Feira de Ladra” e comprei-a sem saber por que a comprava, sabendo apenas que um dia ela iria ter um préstimo. “ E pensaste em mim, quando a compraste?”, perguntava ela como se quisesse comfirmar a certeza do meu amor. Às vezes somos amados e não temos a certeza porque sabemos que o amor nunca o é ao certo para a eternidade. “Nunca me tinham oferecido nada assim”, acrescentava ela com a certeza de estar satisfeita nos olhos. “Vai ficar naquele móvel que se esconde por debaixo de todas aquelas fotografias”, afirmava segurando a chave com as duas mãos vazias. Eu passava as mãos pelos cabelos dela embevecido com o seu ar de criança enquanto ela me sussurava: “Foste a primeira pessoa que me deu uma chave sem porta”. “Pois é, tens de descobrir a tua porta no edifício dos afectos, descobrindo-te a cada dia”, - digo eu, em jeito de sentença, pondo um ponto final numa conversa que nunca passou daquele momento que a memória guardou fechado à chave.


Joshua M.

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