quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Um
Adoro estar só. Não! Não é necessariamente sozinha, é só! Só é simples.
É um acompanhamento à distância certa, de outro qualquer “um”. É um liberto seguro de si. Gosto da tranquilidade que o “um” e apenas o “um”, proporciona. Um “um” constituído por uma consciência unificante do Ser, que considera cruamente todos os elementos com os quais se compõe.
Gosto desse “um” que exige mais a si próprio do que a todos os outros, mas que também permite mais do que ninguém. Gosto desse “um” que se cuida, não é cuidado, ou se maltrata, sem contudo ouvir repreensão que não provenha de si próprio.
Não me refiro a um “um” egoísta”, “egocêntrico”.
Refiro-me àquele “um” que muitos temem. Àquele que não tem rede, nem encontra desculpa fácil nos outros. Àquele que não teme o silêncio, ou os quartos da casa vazios. Àquele que não teme o barulho do vento, o nevoeiro, a vida ou a morte. A esse “um” que é o reflexo nu e cru vindo do espelho vital ao qual não se atribui defeito, quer se goste, quer não, do que se vê.
É o “um” do corpo que entre as suas entranhas recônditas se encontra com a alma e percebe que, mesmo no meio da maior multidão, antes de todos, ela está lá para ele, com ele, dentro dele. Creio que só assim será possível estar verdadeiramente na companhia de alguém. Sendo “um”.
Lucinda Gray
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