quarta-feira, 22 de dezembro de 2010


De como as aparências podem iludir, mesmo tratando-se de aves

Consultei algumas personalidades aqui da vila sobre a algazarra que as gaivotas fazem por volta cinco da manhã, em alguns períodos do ano. Com, ou sem tempestade no mar. Na verdade, na maior parte das vezes, sem motivo aparente.
Puxei conversa desinteressadamente entre bom dia, boa tarde e sem dar a entender o que verdadeiramente penso sobre as gaivotas e o barulho que fazem, o destino que lhes desejo e o fim que lhes daria, se tivesse essa faculdade...

Eles:

1) que é da "porcaria da marina que pr’ali construíram e dos barcos que as expulsaram!!! (o Sr. Manuel, da mercearia);
2) que é da falta de peixe no mar, que as obriga a procurar alimentos em terra!!! (a Sr.ª que me vende peixe, no mercado);
3) que andam perdidas e intoxicadas, por causa da poluição!!! (o Sr. do quiosque).

Nada do que ouvi me convenceu e, na verdade, fiquei um pouco surpreendida com a falta de lucidez das explicações, mas também com a ligeireza com que me responderam, dando ideia que sim, ouvem o barulho, mas nada de extraordinário! Afinal, trata-se de um bando de aves a guinchar descontroladamente a partir das cinco da manhã!

Na verdade, eu tenho as minhas suspeitas sobre o assunto (temos sempre) mas…

Estava convencida que alguém me fosse dizer, “são umas desavergonhadas, piores que os coelhos”, ao que eu responderia logo: ”sim, de facto, é o que parece, embora excessivamente entusiasmadas, para aves...”. Mas como ninguém aludiu sequer a tal (e tratando-se de gente que conhece os hábitos e costumes das gaivotas), escusei-me a entrar por aí. Não fossem começar com olhares esquisitos.

Enfim!

Alguém se encantou um dia com um bando de gaivotas em voo e vislumbrou ali uma ideia de liberdade, que muitos outros foram confirmando e afirmando (nada de politiquices se faz favor). Já eu, oiço um bando delas a guinchar tresloucadas em alta voz, madrugada após madrugada, e se alguém me disser que existem aves no inferno, eu asseguro que só podem ser gaivotas.

Acho que “tudo se resume a bons e a maus encontros” , como diz a velha máxima de Spinoza.

Eu e as gaivotas não temos bons encontros! E como gosto muito de viver por aqui, terão de ir guinchar assim para outras paragens.

(amanhã de madrugada informo-as).


Iolanda Bárria

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