sábado, 18 de dezembro de 2010

Crónica Benzodiazepina


O Homem das Letras

Hoje vou falar-vos do homem das letras. O homem das letras passeia-se de pasta, como o antigo “Homem da Regisconta”, usa fato e sapatos pretos. Bebe sempre o café na praça, junto à porta envidraçada, para que todos o vejam escrever. Quando se senta, larga uma farpa: palavras feridas de sangue e dor, palavras que não são suas. As palavras colam-se-lhe ao corpo sempre que dá um passeio pelo emaranhado das palavras dos outros, na rádio ou na tv, e solta-as mais tarde ao gosto de ideias politicas; ideias sem dono nem destino.
Depois há o outro homem das letras. Veste casual. Anda sempre com um dicionário debaixo do braço, três gramáticas entre as pernas e um livro de poemas no bolso de trás das calças. Vai torto, a tentar segurar o cigarro que lhe inclina o corpo. Traz o cabelo despenteado e um esgar amarelo no rosto. É o poeta revolucionário. Pede de comer para poder continuar a escrever. Usa palavras românticas mesmo quando sofre ou quer morrer.
Acabam-se-me as ideias na moderna escritora. Elegante, puta fina, usa palavras frescas que intervala com imagens de soutiens e calcinhas bonitas. Escreve por amor à arte e à coluna de revista. Não se coibindo nunca de plagiar, encobre as limitações da escrita numa mala repleta de maquilhagem, um portátil e telefones de ecrã táctil. Tem página no facebook. E mais não digo... Pffffft!


DuArte

Sem comentários: