quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011


Armas de destruição passiva

O desejo invadia-lhe os sentidos sem vestígios de sensatez. Nunca se tinha habituado a ser sensato. Cloroformizar as suas pulsões e recalcar os sonhos nunca tinha sido uma opção. Assustava-se com os possíveis impactos das limitações conscientes quando a sua natureza era flutuante e maleável. Sentia uma coleira a reprimir-lhe os impulsos, espartilho insensato das emoções e uma tensão cortante acumulava-se por dentro. Não sabia amestrar as palavras que lhe queimavam nos dedos e sufocavam na garganta. Nunca tinha sequer sentido a necessidade de manejar habilmente o chicote interior para serenar o furor. Não sabia ser passivo. Apenas passional. A passividade, essa coisa neutra, para ele sempre fora a forma mais agressiva de destruição massiva. De destruição passiva.


Bruno Vilão

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