sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
paisagem urbano-depressiva sob o silêncio
as manchas ensombram a paisagem declarada e clamam para se apoderarem da atenção do turista, apanhando-o desprevenido, não lhe deixando outro campo de visão para onde correr;
há um sapo hiper-tanso atento às mudanças do papel de parede, rosáceas em curso, a cada passo o salto do sapo pára e observa o que mudou, examina o padrão e a sua unicidade;
os cigarros repousam distraidamente sobre a proximidade das poltronas e vão reinventando os cinzeiros, encenando cortinas de fumo no auge do carvão;
as portas ficam sempre longe ou atrás das fotografias, para que ninguém possa sair por elas e assim se guarde a eternidade do momento, com todos os retratados sempre presentes;
e tudo mais é espaço, é contraste de luz e sombra, uma sala cheia de fotões em anarquia perfeita, de feixes e corpúsculos animados por impulsos acicatados por descargas eléctricas superficiais;
os filamentos embutidos nos sóis caseiros incandescem para nos dar um lar de luz, iluminam tudo por breves instantes numa sala cheia de escuridão eterna;
as contas certas da energia tudo acendem enquanto a câmara gráfica continua a registar as latitudes, a guardar para si o segredo de uma parede manchada por um petróleo obscuro - depois de cada treva, sobrevem nova manhã;
um par de mesas de longas pernas imaginativas suporta os limites do cenário onde o espaço vital é continuamente inflamado pelas lentes;
sobre uma das mesas, o rodopio sonoro do cinzeiro kitsch; sobre a outra, uma cena camp passa inanimada numa televisão ligada em tons de sépia;
e tudo à menor dimensão de um sapo: de loiça ou de plástico; a terra dura vacila, é cada vez menos firme quando chove acidamente, cada vez menos chão para os nossos passos;
o vazio é lugar de onde saiu toda a gente para a rua, porque a rua é o melhor destinatário quando temos alguma coisa a dizer;
estão reunidos todos os espectadores do lado de fora do retrato de si mesmos, só assim se conseguem ver para lá da imagem do que são – obter uma perspectiva de sentido único;
e tudo em silêncio, por fora e por dentro, por todos os lados, até ao – tecto–falso - azul do improvisado céu virtual.
tudo cingido a uma paisagem retro, tudo sob o silêncio...
Joshua M.
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