sábado, 2 de julho de 2011
Crónica Benzodiazepina
A Revolução Segundo Jesus Cristo
Uma mulher, de nome Sakineh, foi condenada à morte por apedrejamento no Irão, o seu crime foi ficar grávida de outro homem depois de enviuvar. Isto passa-se no Irão como se poderia passar em Portugal – a diferença está nas pedras, na metáfora que nos transforma em cidadãos de um país civilizado. Supostamente a religião não gosta de mulheres, de mulheres que escolhem o seu destino, que fazem a sua vida ser a sua vida. Maria Madalena também deveria ser apedrejada da mesma forma, não fora um revolucionário que se interpôs entre os verdugos e a vítima e os fez lembrar-se de que a vítima poderiam ser eles. A parábola é uma lição de vida para todos os que crêem na vida, mas séculos depois os mesmos que se dizem imitadores do revolucionário já não querem revoluções. As mulheres são nefastas para a religião. As mulheres têm o único poder criador que existe e isso é perigoso, podem igualar o acreditado criador universal. A criação é um desporto de tiro ao óvulo e, ao acertar na mouche, o atirador tem direito ao prémio da descendência, da perpetuação da espécie, mas não pode controlar o óvulo. O atirador é o mesmo que apedreja quando não está contente com as regras da criação. Um dia, ferido na sua masculinidade, o atirador vai querer apedrejar deus porque fez qualquer coisa de imperfeito, segundo os cânones da crença, e vai descobrir que deus é a mulher e que se está a apedrejar a si próprio dentro do ventre dessa mulher. Estará o leitor a pensar que ninguém ousaria apedrejar deus ou qualquer mulher num país civilizado, mas lembre-se de como a civilização vai modelando as pedras, de como as transforma em calhaus de hipocrisia que empurram a apedrejada para as margens sociais. Porque o atirador é que sabe, ele é que estabelece quando tiro ao óvulo é legítimo e abençoado pelas divindades, senão a mulher prenhe deve sofrer a ira dos deuses, que eles são gente séria e não pactuam com leviandades, não toleram nos céus mulheres livres a fazer-lhes concorrência. Assim foi com a questão do aborto até à sua despenalização, assim é ainda hoje quando algumas seitas sinistras a braços com a obra de deus – que não é mais do que a obra do castigo divino – lapidam as mulheres que decidem o seu destino. Não há deus que suporte tanta maldade, Zeus com as suas tropelias é um menino ao pé dos deuses que hoje mandam. Ao menos os gregos, com a sua sapiência, criaram deuses muito mais humanos.
Joshua M.
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