quarta-feira, 6 de julho de 2011


Querem que escreva?

Querem que escreva? Que querem que diga se quando vou para escrever é como se meu cérebro congelasse? Escrever é uma tortura para mim, é como mutilar minha própria alma, é como esventrar meu próprio ser, é como arrancar meu coração com minhas próprias mãos. Que irei escrever? Sobre a realidade? Não, a realidade já não interessa a ninguém senão a mim. Ela é cruel, desumana, preversa com os sonhadores, assim a acham. É sempre mais agradável ouvir devaneios românticos que nos levam, inocentemente, pelos caminhos da imaginação, que nos envolvem delicadamente num manto de ilusões. Oh, como é cómodo viver enrrolado nesse manto tão elegante, tão suave, tão calmo! As pessoas acham-me fria porque opto pela realidade e não pelo sonho, acham-me insensível porque desprezo quimeras, acham-me vil porque rejeito sentir amor. Achará o mesmo um sonhador decepcionado? Um apaixonado desiludido que vagueia pelas ruas da cidade debaixo da chuva gélida de Janeiro? Admito: eu amo, oh como amo! E sonho, sonho insensatamente! Porém, quando a realidade vem e descobre meu ser, outrora coberto pelo manto dócil, tudo está cinzento, tudo é tão triste e tudo me dói. Não aguento, não aguento sonhar, amar! Os sonhos matam-me aos poucos, amar distrai, destrói-me. É melhor viver na realidade do que mergulhado em ilusões! Quando é que vão entender que a realidade não é cruel, mas sim os sonhos? Escolhem-nos porque são cómodos!? Porque não se querem magoar!? Então escolham a realidade, experimentem a lucidez e aniquilem os sonhos! A realidade é mais cómoda e, magoar ninguém se magoa, se não sonhar. Viver sem sonhar!? Entediante!? Sempre existe o desejar.


Joana Santos

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