quinta-feira, 6 de janeiro de 2011


Viver nas estrelas

As constatações maturadas pela vida sabem a noz. É um sabor sóbrio que exige um palato desinteressado das vibrações histéricas próprias dos gelados de morango ou coisas do género. Um palato mais perscrutante e atento, cauteloso (não confundir com medroso) no que respeita a juízos de valor.
Nos dias que correm, quando as pessoas mostram o seu lado pior, já dificilmente me magoam. Embora nunca o espere, é sempre uma surpresa. Esta constatação foi talvez a maior conquista da minha vida. Olhar o mundo sem esperar aquilo que seria desejável, é algo que se começa a treinar cedo. Mas, olhar o mundo e não esperar o que é possível obter dele, sem que isto nos derrote, é um feito. Em vez de me enraivecer com a mesquinhez e a desinteligência, na maior parte dos casos, sinto mais pena dos seus protagonistas do que qualquer outro sentimento. Lembro-me de Tales de Mileto, gozado por uma escrava por, ao observar as estrelas enquanto passeava, ter caído dentro de um buraco. A escrava olhou-o com desdém e disse-lhe –“Para quê viver com a cabeça nas estrelas e tentar conhecê-las, quando não se consegue ver o que está imediatamente aos pés. Tales retorquiu, “antes viver nas estrelas e cair num buraco, do que viver a vida inteira num buraco e nunca as ver”.


Lucinda Gray

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