sexta-feira, 14 de outubro de 2011


Sem título nem assunto

É assim: quando queremos escrever não é preciso um título, na maior parte das vezes o título apenas serve para explicar o que não vem no texto (e devia vir), para o acrescentar dizendo mais qualquer coisinha que – com grande probabilidade – passaria despercebida ao leitor menos atento. Também não é necessário um assunto em concreto a tratar com palavras organizadamente encadeadas, com frases (feitas ou por fazer), com os lugares-comuns mais comuns ou sem lugar onde cair morto – o assunto é, a torto e a direito, o conteúdo imaterial da obra.
Mas, também não é imperioso que exista – de existência permanente e duradoura – qualquer conteúdo, seja ele fisíco ou mental, estético ou moral, ético ou metafísico. Um texto basta-se a si mesmo, alimenta-se “verbofagicamente” das palavras que o compõem, ou dos silêncios deixados na página, vive dos símbolos, dos sorrisos estampados na página principal de quem dita as ideias ao papel ou ao microfone.
Neste momento estará já o leitor a pensar que estou maluco e que um texto sem conteúdo não é um texto, é apenas um pouco de silêncio a juntar ao silêncio já existente. Numa perspectiva muito minimalista podemos conceber um texto elaborado com uma única palavra apenas; podemos até nem articular nenhuma ideia e mesmo assim conseguirmos (com esse quase-texto) sugerir ao leitor as mais diversas ideias.
Suponhamos que me limitava a escrever "...", numa página em branco e logo o leitor ficaria a pensar: “mas por que não escreveu ele uma palavra? Por que terá posto aqueles "..." reticentes? será que ia iniciar alguma coisa? Será um signo de protesto? De prazer? De descontracção? de indiferença?”
Qualquer coisa que não imagino e porventura nunca vou saber!
No entanto, não me restam dúvidas de que é um texto, sem título nem assunto, é um texto, mesmo que não se diga. Basta uma ideia dada e um final reticente, para ter/ser sentido"..."


Joshua M.

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