quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
2º ANIVERSÁRIO D'O FILÓSOFO E O FANFARRÃO - Palavras Versadas (I)
pray-amar
não imaginava ser em redemoinhos
a metamorfose de um tempo insaciado
antes de os teus cabelos pousarem em mim
como uma cidade de gaivotas
a máscara fabricada nos dedos éramos nós
ensaiando mentiras, amplexos esquivos
um quebra-luz de novelos recortando o espaço
éramos nós, enlevados de luz esquecida
segurava todas as coisas na força das mãos
e eram o sobressalto de poder ter-te lá dentro
como o estares ausente petrificasse pesasse
mãos fossilizadas de lés-a-lés, a pedra amnésica
éramos pilares, estavas do outro lado
a lançar pontes aos meus olhos, eu guardava sede
atravessava-te desde o ângulo secreto da coxa
à nuvem suspensa no voo do tornozelo
corríamos velozes, tínhamos o riso das crianças
se acontecia dizeres, crescia-me areia na pele
daí eu fazia de mim um castelo a contemplar
a maré da própria eternidade
no bastidor das ondas algo nos segredava
palavras inanes. acreditei então podíamos ser
uma praia, transportar mergulhos, ter ouro
sonhado e jóias, aguardando o seu tempo de sonhar
musas por dentro, preencher as palavras
com todas as coisas breves que cabem no vento
perfazê-las de caminhos secretos
secretos mapas indecifráveis aos outros
e perdermo-nos nos interstícios cúmplices
nas pregas dos dias que chegassem por carta
escrita por nós, remetida algures, mas que
não leríamos, porque seriam, sonhava eu
(o planalto dos teus ombros diluindo o azul)
um céu de palavras caladas como dunas
tornadas repletas de memória e vontade imutável
de não serem ditas
eis-me, mudo até aos joelhos
salgado na curva maior do dicionário
Renato Filipe Cardoso
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