sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012


Uma rotina sem descanso

Não: não tenho justificações para as minhas insónias. E quando vem o sono durmo irrequieta. E de dia é sempre a mesma asquerosa rotina. São sempre os mesmos lugares, sempre os mesmos cheiros, sempre as mesmas pessoas, os mesmos corpos, os mesmos rostos, as mesmas expressões. O mundo parece-me tão sem cor e sabe-me a pão sem sal. E tento escrever, tento porque já nada aqui me consola, porque aqui já nada me conforta. Mas que irei eu escrever? Eu, que outrora era feita de certezas e que hoje nada sou senão inconstantes. Acendo um cigarro e penso em escrever qualquer coisa só para me confortar, só para afastar todo o tédio que me corrói as entranhas. Nada. Sigo o fumo com os meus olhos claros e recosto-me na cadeira. (Talvez, se saísse por aí a gritar como um lunático aprisionado num manicómio, fosse feliz.) Visto isto levanto-me e aproximo-me da janela. Olho, com desdém, e constato a monotonia das coisas. E enquanto esfumaço aguardo. Aguardo na esperança (inútil?) de que algo aconteça. Pode ser que exista algo que ainda valha a pena.


Joana Santos

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