quinta-feira, 19 de abril de 2012


Urbana Miragem 

Ele caminhou mais duzentos metros, não sabia onde ficava a esquina, para a qual orientaram o acesso: - vire à direita, a terceira esquina à direita. Caminhava sem direção, um tanto distraído, desconhecia as lojas, botecos, a feira local inexistia. Constrói cada momento no desvendar dos olhos. Apelidaram-no Miguelito, sufixo familiar. Neste dia, acordou cedo, foi ao comércio e comprou lantejoulas prateadas para enfeitar a roupa, enchera a sacola de tecido bordado, até que essas transbordassem. O amor requer certo deciframento. Após caminhar mais cem metros, um encontro. Você não pode ver o brilho do sol contido. Havia sim um transeunte maravilhado com aquele efeito.
Curioso, dobrou a esquina anterior, uma cidade invisível não suporta detalhes. O tempo é instantâneo, o espaço escapa. O moço magro e misterioso seguia, um tanto carrancudo tecia arte. São dois transeuntes. Xaxado, após virar a esquina dera de frente com Miguelito. Não houve encanto. A beleza estava nas lantejoulas, Xaxado não seria mais o mesmo. Andou sem rumo, dizem, sem norte. Do contrário, aprimoraria a técnica. Na casa de Miguelito, todos eram cuidadosos, uma musa tem máscaras infindáveis. Escolheu uma calça branca, limpa, com pequenos remendos, uma camisa ciana, mais alguns feitos e estava coberto de lantejoulas. Feito no quintal de casa, os muros de pouca altura deram uma visão brilhante. Tempo em que Xaxado,ao passar de volta, ficara extasiado com súbita visão. Faria o mesmo de acordo com os costumes de seu povo? O sol brilhou naquele quintal, estrelas brilharam na calçada do comércio. Xaxado não viu.


Manuela Barreto (Brasil)

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