sábado, 15 de dezembro de 2012

Crónica Benzodiazepina


Coisas que carrego comigo

Dizem que bolsa de mulher é um poço sem fundo, o objeto de desejo sempre escapa à mão, esta só alcança o inesperado. Na segunda-feira passada decidi fazer umas compras, pois minha bolsa estava muito rasa, até então posso elencar o que carregava: um chapéu desinibidor de pensamento; bengala rastreadora de perfumes; notas antigas, sem valor; casulos para borboletear voos; medidor de tensão para atravessar multidões; farpas de poemas concretos; pluma para pequenas delicadezas amorosas; miado de gato para aliviar solidão, e outras asneiras. Na volta para casa, enfrento um acontecimento constrangedor: o taxista para em frente à minha porta, abro a bolsa e borboletas começam a voar de dentro enquanto procuro a carteira com as notas de dez reais. Peço ao motorista que aguarde um momento, pois não conseguia encontrar as tais notas, ao passo que soa o miado do gato e leve e solta flutua a pluma. Disfarço a situação, admitindo que bolsa de mulher é assim mesmo, um poço sem fundo. Para minha surpresa ele, discretamente, pergunta: - A senhora é uma entomologista? Desconsertada respondo: - Não, sou uma louva-a-deus.


Manuela Barreto (Brasil)


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