terça-feira, 24 de maio de 2011

Palavras Versadas


C'ORAÇÃO

dormes no teu sonho, leitor.
o teu objecto de tempo respira 
o que terias sido
entre a intenção das nuvens.
e isto nada tem que ver com o coração.
o corpo não precisa de um coração
que se consome a si mesmo
com aquilo que a esperança pede.
dormes no teu sonho, leitor.
e agora com estas palavras, com 
a minha morte reproduzida em palavras, 
compreendendo
aquilo que de mais avulso há:
a doença, a surpresa temerosa 
comparecendo
ao silêncio, a atmosfera visível
do sentido inocente exercitando 
a planura do movimento.
e tu dormes no teu sonho, leitor.
enquanto a oração passa 
e nós descobrimos o nada.


Sylvia Beirute

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