sexta-feira, 6 de maio de 2011
A PALAVRA AOS NOSSOS CONVIDADOS (V)
SONHO MEU
Ela tem narinas esbranquiçadas de quem aspira uma carreira de superstar morta por overdose
é a preferida de dez entre dez manchetes de jornais
o rosto nas capas de revistas é a imagem de hábitos ruins
os pôsteres nas paredes adolescentes ainda inspiram exercícios manuais solitários, apesar de tudo
enquanto viajava, dessa vez pelas linhas aéreas, desvanecía-se em sonhos
quanto mais conhecia do reino de morfeu, tanto mais era a solidez de tal realidade
e lá estava ela, voluntária da primeira missão tripulada até a lua
única companheira do piloto automático que a entretia com as novas da biosfera ll
a proximidade das crateras revelava no lado escuro do satélite o brilho fosco da redoma
seu lar pelos próximos cinco minutos da contagem regressiva
o trem de pouso na pista coincide com os pés de volta ao chão
e a águia pousa... na terra
... do misantrôpo perdido na desorganização do quarto não se sabe muito
quem o viu diz que ele mora numa ilha, a milhas de qualquer contato
toda a areia dessa ilha cabe na caixa onde um gato velho deposita as fezes
toda a vegetação, dentro do vaso esquecido e mal-iluminado
a pobre planta se arrastaria para a luz se pudesse
não é o caso do misantrôpo
dentro do oceano de concreto e aço, não guarda hábitos de banhista
cumpre um ritual, o do sono... é imerso nele que sai da concha
dia desses teve um sonho - e sonhos não lhe faltam:
era aceito como voluntário na primeira missão tripulada para a lua
orgulhoso de si mesmo, mal continha a emoção intensa
a nave ganhava os céus, ultrapassava as nuvens, contemplava as estrelas
penetrava no vácuo, percorria do alto a superfície lunar e por fim alunava
a porta de entrada e saída do passageiro, que supunha-se única, reservava surpresa
ao lado do compartimento ocupado pelo cosmonauta, um outro compartimento
e nesse compartimento, outra porta
e dessa porta, uma viva alma a surgir
cumprimentou-a perdido em interrogações e mais do que depressa tratou de saciá-las:
"disseram que eu seria o único tripulante da missão... não entendo o que você faz aqui."
"me disseram o mesmo." - ouviu dela (reconhecera a voz feminina por trás do espesso capacete)
no interior do jardim do éden lunar, a biosfera ll, um romance aconteceu
a garota de narinas esbranquiçadas viajando pelo reino de morfeu pelas linhas aéreas
decidiu que seria feliz
mesmo no mundo da lua... por uma eternidade... que acabaria em cinco minutos
o misantrôpo ilhado no oceano de concreto, aço e sonhos, desfrutará da doce companhia da estrela cadente pelo tempo que for preciso... e enquanto puder sonhar jamais será um solitário em mundos que não são o seu
Rinaldo Leriano (Criciúma, Brasil)
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