domingo, 1 de maio de 2011
NO DIA DE TODAS AS MÃES (II)
Belíssimo exemplar
A minha mãe fez há pouco oitenta anos. É uma mulher admirável. Admirável, não perfeita! Aos oitenta, corresponde-se com todas as suas cinco filhas por email. É a favor do casamento gay e de uma maior "descontracção" religiosa. Às vezes, dou por mim a olhá-la e a perguntar-me de que raio de matéria foi feito aquele ser tão, aparentemente, frágil. Orfã de pai e mãe aos cinco anos. Criada num colégio interno de freiras. Foi mãe de cinco filhas, cujas gravidezes, todas elas, e partos, todos eles, a deixaram às portas da morte. Sofreu dois acidentes brutais de automóvel. Há dois anos, partiu o fémur. No entanto... basta vê-la! A passear de salto alto, sempre paulatinamente, com o ar de quem carrega uma invisível coroa. Dona de uma teimosia férrea, continua senhora do seu destino como se tivesse apenas quarenta anos. Volta e meia, viaja para a Escócia, ou para Paris, sozinha, sem no entanto dominar qualquer língua estrangeira. De vez em quando, faz planos de vida surpreendentes... do género: “Se calhar, ainda vamos viver para outro país!” Fico boquiaberta! Invejo-a. Invejo a enorme capacidade que tem para se adaptar aos tempos. A enorme força que se esconde naquele corpo magro e anémico! É um belíssimo exemplar do sexo fraco.
Lucinda Gray
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