sexta-feira, 13 de maio de 2011
Pintado de fresco
Como se soubéssemos e não quiséssemos, que os candeeiros se oferecessem fúteis e proveitosos pelas ruas da amargura, feitos de luzes breves para iluminar os nossos passos pelo futuro. O nosso mundo é uma luz solitária a acompanhar a solidão das outras luminárias da mesma quelha. E não prevíamos que viesse alguém minar as nossas bases pensando que eram pilares de um balcão desactivado, a quem nem os cães ligassem porque tinham onde mijar sem alçar a perna. Sempre temos a "Mimi travessuras" para dar alegria à malta que é jogadora do futebol, num campo bem adubado de esterco e moedas de ouro enlatado. Sempre temos o zodíaco e os astros, para nos dizerem que somos uma e a mesma merda que já sabíamos ser, muito antes de sabermos as estrelas já contadas em contos de crianças.
Como se quiséssemos e não vivêssemos, porque vivemos em Tokio e na China e no Curdistão tanto como Líbia; e a América com os seus canhões dá-nos um aperto no coração que vendemos para comprar pão. Queremos tudo o que não temos e vamos procurá-lo em lugares que ainda não inventámos. Nós somos, segundo a realidade vitual e deveras real, os inventores de nós próprios, ao inventarmos um deus que não nos inventou. Todos os inventos, a sul e a norte da Cochinchina, são práticas mal amanhadas pelos séculos de uma qualquer estupidez internacional organizada. Todos inventámos tudo e ninguém inventou nada, porque já estava tudo pensado – os alguidares de água em que se estilicidam gotas de azeite são a (in)junção de dois fuídos imiscíveis, mesmo aos olhos de lupa mais atentos e perscrutadores, mas lá está todo o nosso destino vazado.
Como se houvéssemos de construir pontes e não soubéssemos partir ao meio as dores e os segredos, ciosos de sermos nós, por não sabermos o que querermos, porque a nossa identidade foi rasgada pelo polícia que nos aguardava à porta do inferno. Nós queremos tudo e não queremos nadar para chegar onde queremos chegar a nado. Somos nadadores exímios, infractores inveterados e atletas bulímicos, formados de esteróides anabolizantes que agora se usam muito mais do que antes. No estádio actual do nosso desenvolvimento, no plateau onde actuamos, há sempre um palhaço-ponto que nos deve dizer o que dizermos. E nós obedecemos com a consciência do bem comum cumprido, com a nossa verdade posta entre os olhos para não vermos os outros que pisamos, como se pisássemos o caminho que traçamos recto sendo curvilíneo.
Como se tudo estivesse pintado de obstáculos recentes. E não quiséssemos pisar a tinta fresca.
Joshua M.
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