sábado, 24 de setembro de 2011

A PALAVRA AOS NOSSOS CONVIDADOS - Crónica Benzodiazepina


Carta à minha infância

Quero escrever-te uma carta Raquel. Embora ainda não a possas ler, o que importa é que ela seja tua, como são as tuas bonecas, como é toda tua esta pequena família. Quero dizer-te, com estes pobres 26 anos, que os teus próximos 22 não serão aquilo que tu sonhas quando o sol se põe e os teus olhos se fecham.
Os teus próximos 22 anos, vão dar respostas às perguntas que te fazes, quando os teus olhos estão abertos, quando vês lágrimas nos olhos dos mais velhos e sorrisos nos seus lábios. Ainda não és capaz de distinguir as lágrimas de felicidade e os sorrisos de tristeza, mesmo que chores quando não te levam ao cinema, e sorrias quando te tiram a sopa da frente.
Porque não sabes que, para teu bem, deves fazer precisamente o contrário.
Mas o que te quero dizer, com toda a inocência de alguém da tua idade, é que, nos teus próximos 22 anos, vais cometer muitas vezes o mesmo erro: com frequência afastarás de ti a felicidade, pensando ser feliz; e entregar-te-ás lágrimas depois. O que interessa é que entendas que tudo isso é consequência do teu crescimento, a que não adianta fugir, nem buscar caminhos mais fáceis. Importa que chores, até que um dia as lágrimas te saibam a mel. É bem melhor que o riso que acaba em soluços.

Não tenhas medo de chorar; nem vergonha, se isso te trouxer depois a felicidade. Trata apenas de lutar. O mundo está sempre do teu lado.

Eu, também já fui como tu.


Anja Rakas (Moçambique)

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