quinta-feira, 19 de janeiro de 2012


Bang Bang

Por breves instantes desviei-me do arbusto que me resguardava os sentidos. Não totalmente, que isso de passar da total camuflagem emocional para nu no deserto vai uma distância tão díspar como do Bang Bang da Nancy Sinatra para o original da Cher. Desvendei-me um pouco apenas. O suficiente para pensar: “Eu devia saber melhor”. E devia. Mas o impulso é sempre mais intenso, mais mágico e mais profético (e por que não dizer mais sonhador) do que o espartilho que amestra as acções.

Suavizo-me por sentir ter conseguido reavivar um furor que julgava perdido algures no tempo e por ter consentido que conquistasse o direito a expressar-se, da forma excessiva e por vezes intimidante que me escorre dos dedos, da pele e de um certo indistinto instinto. E esta ínfima distracção valeu-me um infalível Bang Bang que me implode no peito.


Bruno Vilão

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