Alucinações?
Estava mesmo assustada, ali, perdida na
floresta. Andei sem parar e tudo me parecia igual. Sentia-me
mortificada. Nem sei como raio me tinha perdido dos outros num sítio
daqueles. Estava completamente desorientada. Afinal sou da cidade e
ali tudo me era estranho, sem um único ponto de referência.
Caminhei devagar tentando evitar os obstáculos naturais. Cheguei,
por fim a uma clareira e vi uma pequena cabana. Mirei-a com atenção:
era de chocolate e pão-de-ló e barrigas-de-freira e ovos-moles de
Aveiro. Pensei logo que não devia ter comido a fruta que encontrei
pela floresta. Estava a provocar-me alucinações. Passei, a correr,
ao largo da casa e continuei a caminhar. Algum tempo depois cheguei
junto a um rio. As suas águas eram amarelas e paradas, diferente dos
outros rios. Subitamente avistei, na margem, um homem da idade de
Matusalém. Estava dentro dum barco e fez-me sinal para entrar.
Primeiro nem tive reacção. Depois virei-lhe as costas e fugi
apavorada. Caramba, só podia ser o barqueiro do diabo e o rio era,
certamente, o Hades. Andei sem rumo mais algum tempo, até quase
chocar com um espelho enorme e grotesco encostado a uma árvore.
Pensei, de novo, que aquilo não podia estar a acontecer. Desviei-me
do espelho pronta a recomeçar a minha marcha. “Claro que há
mulheres muito mais belas que tu. Muitas mesmo.”. Eu nem queria
acreditar, mas o espelho falou-me. Voltei-me para ele e olhei-o de
longe e quando dei por mim estava a dizer-lhe que não lhe tinha
perguntado nada. Ele soltou um sorrisinho desdenhoso e respondeu-me
que só quis que eu ficasse a saber que nem por sombras era a mais
bela. Num ápice atirei-lhe uma pedra que o estilhaçou em mil
bocados, enquanto ele gritava impropérios, e disse-lhe que também
havia espelhos em muito melhor estado que ele.
- Isso não te aconteceu, certo?
- Aconteceu pois. Vinha a fugir da
floresta e apareceram-me todas estas coisas no caminho. E também uma
bruxa e uma fada.
- Deves ter dormido uma sesta debaixo
de uma árvore e sonhaste tudo isso.
- Será? Mas ainda bem que te
encontrei. Já estava aflita.
- Eu também, por um beijo teu. O
espelho era um tonto. Tu és a mais bela.
- Humm, queres um beijo meu?
- Muitos – Respondeu o sapo com
doçura.
Missanga
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