quarta-feira, 27 de abril de 2011
Afasta de mim esse sorriso
Caminhava descalço pelo tempo. O trilho do futuro apresentava-se enevoado e não tinha acordado contemplativo o suficiente para descer rumo ao passado. Ali é que não podia permanecer. Então quedei-me, imóvel. À espera. À espera que a neblina se tornasse menos densa ou que o desejo da contemplação me magnetizasse e me precipitasse por uma incursão às entranhas das memórias. É curioso quando nos iludimos imaginando ter poder sobre estas coisas. “Se não me mexer nada acontece”, “o que não vês não existe” e todas essas ideias inúteis. Tivesse eu recordado a lição do Maomé e da Montanha e teria percebido que a imobilidade não é um lugar assim tão seguro. Então, sem pré-aviso, embatemos contra os vestígios do passado. Minto. Contra o passado em peso. A fluidez verbal torna-se trôpega e a noção de equilíbrio é desafiada. É que aquele sorriso pode ser trágico. Conhece demasiado bem a trama desta tragicomédia. Aquele sorriso quebra qualquer simetria. E alimenta os monólogos interiores. Com lábios que assinalam o caminho da aventura. Por momentos esqueço-me que conheço o mapa da ilha do tesouro. Porque sim. Porque aquele sorriso recorda que a vida é demasiado curta para a longevidade da sua singular subtileza. E porque desvenda contradições reafirmando o que nega. Não vá esse sorriso tão hipnotizante resgatar-me... uma vez mais...
Bruno Vilão
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