quinta-feira, 11 de agosto de 2011


História da gaivota que sabe voar e não precisa que a ensinem

Não há tempestade no mar, nem consta que haja por aqui um gato que a ensina a voar. Esta rapariga gosta claramente de aventurar-se por novos ambientes. Todos os dias quando a piscina esvazia para almoço ela pousa entre a piscina das crianças e a dos crescidos, numa pausa entre o mundo dela e o nosso. Já pensei dar-lhe um nome, para depois exibi-la como mascote das minhas férias, mas isso seria reduzi-la a uma identidade que ela não procura. Nem todas as coisas têm de ter palavras a assiná-las. A gaivota vem como vou eu daqui a pouco entrar pelo mar adentro, sem querer que ninguém saiba o meu nome. Nestas férias estou verdadeiramente aquilo que não sou - antipática. Não dou conversa a ninguém. Não me apetece. Nem mesmo àqueles rapazes giros que estão sempre a roubar-me a espreguiçadeira para jogar às cartas, nem mesmo àquele rapazinho de Évora que está sempre a espreitar toda a gente por cima do livro de BD e que diz: "Lá em Évora demoramos sete horas a chegar à praia!". Criança adorável. Noutras férias teria tido vontade de adoptá-lo. Nestas, não. Sorrio-lhe apenas e ele percebe que eu estou como a gaivota: entre mundos.


Ana Santiago

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