terça-feira, 23 de agosto de 2011
Palavras Versadas
o íman e a bicicleta
abrimos gavetas de par em par
porque temos gavetas
porque somos um par
mas tudo que há nelas é de plástico
de corpo dúctil, brilho quebradiço
riso maleável e som volúvel
nada é o que parece, ao tempo elástico
tudo se molda, no mundo postiço
que queríamos insolúvel
insistimos de cócoras a espreitar
debaixo dos móveis está tudo igual
tudo se dobra, tudo se vende
nada nos consegue arrepiar
nada compreende a textura do metal
nada nos prende, e como tal
dizemos ‘não é nosso este universo’
tudo se transforma com rapidez
até ser inverso, outra vez
cada um era íman, agora já não
o mundo plástico não sabemos atrair
nem nos atrai com tantas cores fingidas
e dores tingidas num fundo falso
largamos a pele de íman no chão
já que estamos sós por que não sair
à procura de novas descidas
brincar ao imprevisto no encalço?
às vezes parece a vida inteira
cortar o vento desta forma secreta
que absolve da sentença de solidão:
pela íngreme ladeira
solta-se a bicicleta
e o amor grita ‘sem mãos!’
Bill enGates
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