terça-feira, 13 de março de 2012

Palavras Versadas


enguias

eu trago poros exclamantes no silêncio ardente
um castelo de sangue à deriva nos dedos
lento me volto para onde a tua sombra cai
é leve a tua sombra, é púrpura de êxtase
uma vela agitada brandida como um gume
canivete entrecortando rápidos de perfume
e sua fechadura austera esculpida em coragem
durante o lume do sonho a cinza da viagem

a paz viaja em mim como a mão por dentro
do bolso, o suor da mão crescendo na seara
porque semeaste um dia salgado de beijos
dizer-te não peço nada, e chorar depois
somente
como um solo feliz
a terra envolvendo com gestos aranhiços precisos
enleada a semente, tocada no seu pranto
a semente feliz que extingue sobre si a luz
para germinar em negrócio dormentemente tranquilo

espera um pouco, meu amor, havemos de ter fome
e tanto mordiscar vezes esguias como anzóis
outras sendo sibilantes como enguias em lençóis


Renato Filipe Cardoso

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