Beijamim
Beijamim chegou àquela terra com a curiosidade de um papa-formigas, mas não viajava em busca de alimento, fugia da persistência tendencialmente histérica que muitas mulheres lhe dedicavam graças ao ar apolíneo de um deus que paira, não caminha, sobre a terra. Era, de facto, um homem garboso, daqueles que só de olhar para ele se sente a corrente sanguínea espevitada e a revigorante hematopoese. O seu ar circunspecto, genial e distraidamente combinado com o seu cheiro natural de besta no cio, produzia um efeito quase calamitoso em qualquer mulher que entrasse num perímetro de cinco metros à volta daquela figura. Condenada à desonra para toda a vida e perda irremediável do amor próprio, a infeliz mulher, mesmo com o sistema circulatório renovado, caía na fatalidade de, cegamente, o perseguir até de modo impróprio com o fim único de tocar nele e ser tocada por ele das mais variadas formas possíveis. Os encontros eram, geralmente, fatais do ponto de vista emocional. Alguns finavam em tragédias de sabor novelesco. Beijamim, com este nome que ninguém sabe de onde veio (os pais negam a responsabilidade), nunca compreendeu a atracção de tantas mulheres nem tão-pouco conseguiu retribuir na mesma moeda. Por isso, foge constantemente, desejando mais depressa ser um suspeito criminal que tem a polícia à perna. E foi parar àquela terra como ovelha perdida que se foi resguardar num covil.
Era uma terra agreste que tinha por tradição mais ancestral fazer correr à frente de pedras certeiras as pernas que se queriam ver mais céleres. E, com isto, aquela populaça do diz-que-disse mas não disse nem dirá sacode as mãos como Pilatos lavou as suas. E fecha a gaveta. Com isto não sofre Tó Xico que ainda se vê arredado das lides do mundo, mas Beijamim, com este nome que algum deus esquecido lhe deu, será certamente o senhor que se segue.
Berenice Greco
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