sábado, 1 de dezembro de 2012
Crónica Benzodiazepina
A arte de viajar
Se as nossas vidas são dominadas pela busca de felicidade, talvez poucas actividades sejam tão elucidativas no que à dinâmica dessa busca – com todo o seu ardor e paradoxos - se refere como as nossas viagens.
A arte de viajar, de Alain de Botton
Constatei que viajar era de facto a minha grande satisfação nesta vida. E por isso mesmo liguei-me a uma agência de viagens. Fui escort, o que na gíria turística designa um acompanhante de grupos ao estrangeiro, responsável por ser o interface entre o grupo e a agência de origem. Assim, fui conhecendo o mundo. Viajei com grupos de 30 a 50 pessoas, viagens organizadas que nada me diziam (nem dizem) mas que me permitiam visitar locais que de outra forma não poderia ter visitado tão cedo. E a experiência que resulta da necessidade de resolver problemas inesperados não tem preço. Pude ir assim conhecendo o mundo... Outras viagens se seguiram. Muitas. De lazer. De descoberta. De procura.
É difícil parar de conhecer o mundo quando se sente esta necessidade inexorável de partir. Os devaneios de viagem são próprios dos espíritos inquietos e o essencial nem é o destino da viagem mas o desejo de ir-me embora. Como Baudelaraire dizia: “Qualquer sítio! Qualquer sítio! Contanto que seja fora deste mundo!” E tal como ele, também sinto a atracção por portos, docas, terminais de comboios, navios transatlânticos e sobretudo aeroportos e quartos de hotel. As conversas interiores surgem-me mais facilmente a bordo de um navio ou em pleno ar: “Não tem necessariamente de ser em casa o lugar onde nos encontramos melhor a nós próprios. Os móveis reiteram a impossibilidade de mudarmos, uma vez que também eles não mudam; o quadro doméstico amarra-nos às pessoas que somos na vida quotidiana, mas que poderão muito bem não convir à essência do que somos.” (In A Arte de Viajar)
E agora que os dias de chuva ininterrupta começam a surgir, este duende que habita em mim - e que ninguém (ou quase ninguém) consegue ver - insiste em me fazer sonhar, todas as manhãs, com uma nova viagem. Mas apesar deste fascínio, ainda considero que as viagens mais fantásticas podem ser as que se suscitam na nossa imaginação.
Carmo Miranda Machado
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