Coisas que carrego comigo
Dizem que bolsa de mulher é um poço
sem fundo, o objeto de desejo sempre escapa à mão, esta só alcança
o inesperado. Na segunda-feira passada decidi fazer umas compras,
pois minha bolsa estava muito rasa, até então posso elencar o que
carregava: um chapéu desinibidor de pensamento; bengala rastreadora
de perfumes; notas antigas, sem valor; casulos para borboletear voos;
medidor de tensão para atravessar multidões; farpas de poemas
concretos; pluma para pequenas delicadezas amorosas; miado de gato
para aliviar solidão, e outras asneiras. Na volta para casa,
enfrento um acontecimento constrangedor: o taxista para em frente à
minha porta, abro a bolsa e borboletas começam a voar de dentro
enquanto procuro a carteira com as notas de dez reais. Peço ao
motorista que aguarde um momento, pois não conseguia encontrar as
tais notas, ao passo que soa o miado do gato e leve e solta flutua a
pluma. Disfarço a situação, admitindo que bolsa de mulher é assim
mesmo, um poço sem fundo. Para minha surpresa ele, discretamente,
pergunta: - A senhora é uma entomologista? Desconsertada respondo: -
Não, sou uma louva-a-deus.
Manuela Barreto (Brasil)
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