Postais
Lembro-me de receber postais de boas
festas . Postais com brilhos, postais com renas e neves , postais com
fogo de artificio e desejos . Eles vinham enfeitar as minhas mãos
cansadas, fazer sorrisos no espaço onde os abria, colmatar falhas do
ano, deixar no meu canto, riqueza de vida. Nem todos eram escritos
com a meiguice da época ou a simpatia genuína de quem gosta de
enviar. Mas todos eles se arrumavam em mim, como pedaços de quentura
no frio de Dezembro. Pena que os postais estejam a morrer nas
papelarias. Pena que as caixas de correio já não sintam o latejar
das boas festas e aquelas frases simples, em escrita nem sempre
linear , já não espalhem calor de gente dentro de nós. Porque não
há como receber uma carta, receber um postal e sentir que, algures,
aquele ser que nos enviou a mensagem esteve perto de nós , quando
escolheu o postal, quando nele esboçou seu gesto em vocábulos,
quando o enviou e quando, na demora da resposta, nos pensou. Às
vezes basta um mero toque de palavras. E a ternura é nossa.
Laura Silva
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