sábado, 8 de dezembro de 2012

Crónica Benzodiazepina


Pedir

Um amigo pediu-me para escrever um texto para o seu blogue.
Não podia dizer que não!
Porque tenho muito orgulho não só no convite, mas, e principalmente, na pessoa de quem emanou!
Não sabia o que escrever! Mas fiquei como que agarrada à palavra pedir…
Acho que existem três coisas na vida que nunca, mas nunca, devemos pedir a ninguém:
Que nos ame; que nos considere, e que nos dê a sua própria vida!
Tudo o resto podemos pedir!
Não podemos pedir que nos amem, porque o amor não depende do nosso querer, nem do querer dos outros!
Ama-se por conjugação estelar, pela fragilidade, pelo riso, pelo cheiro, pelo toque e pelo tormento que nos provoca aquele abraço e aquele beijo.
O amor surge sempre como que um dilúvio, uma insanidade, um despropósito, um descontrole, porque nós não somos só vítimas das teclas do destino! Viver é perturbador e precisamos de sentir que os nossos anjos e os nossos demónios estão despertos e lutam!
Por vezes temos tanto medo de continuar a manter esse entusiasmo, e esse olhar arregalado, que se apaixonou pela existência honesta e arrojada do amor, que lhe dizemos que já não está na hora, que já veio tarde…
Mas o amor não atende ninguém com hora marcada!
O amor com hora marcada, só existe nas relações em que se sabe sempre como resolver todas as crises familiares, mas não sabe como preencher as horas livres de um fim-de-semana!
O amor tira-nos o sono, o amor tira-nos do sério, tira-nos o tapete, defronta-nos com os nossos medos com as nossas fragilidades... Mas, em troca, dá-nos generosidade a acachapa-nos com quilómetros de felicidade!
Por isso só podemos pedir a quem amamos que nos mime, que não nos obrigue a controlarmo-nos e por fim a distanciarmo-nos…
Não podemos pedir aos outros que nos considerem, porque esse sentimento só depende da forma como nós mesmo nos comportamos e nos consideramos, por isso só depende de nós.
A verdade é que quase todos nós, neste palco real que é a vida, e nas mais variadas situações, já fomos confrontados e por vezes até afrontados, com vários desafios, estímulos e impulsos e tivemos que optar. E as opções eram inúmeras, mas sabíamos que poucas eram as que nos podiam levar a merecer a consideração dos outros.
E, por fim, não podemos pedir a ninguém que nos dê a sua vida, porque pedir a alguém que nos dê a sua vida é pedir-lhe que deixe de existir.
O que não nos faz agitar, estremecer, tremer, desatinar, beijar e abraçar não merece fazer parte da biografia!

Maria Paula Elvas

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