antes de mais as coisas belas
o vazio faz tanto mal
antes a preguiça e o dormir de ficar
a corrente do rio não pára em
te contemplar
antes ou depois o pequeno-almoço tardio
tomado na cama e em larga companhia
antes o nada em vez da força
porque nada justifica o dínamo da heroicidade
antes ser apenas por viver
ficar por fazer
antes abulia demente
corneta que o vento não assobia
antes promessas
vidas por cumprir em tons de sol
antes Março manhãs de Inverno
mais o frio todo o ano a escaldar
antes ser para apenas viver
ser o que vier para aprender
antes crer num buraco negro
e nele conceber deus sem um filho
primigénio
antes poesia sem génio
rima sobre resma em simetria
antes pecado cansado
carne sobre carne em desvario
antes Eros redescoberto à luz de um pavio
todo o seu rosto iluminado em Psiké
antes e depois Hedoné
a fruição do espírito e do corpo inteiro
antes o prazer louco por pouco dinheiro
a vida atravessada por um fio
antes o castigo da folia
um fado vadio e sem abrigo
antes o frio em massa terna
quando nos vem arrefecer a carcaça carcomida
antes a morte que o andar
numa lida a porfiar por achar aquela sorte
antes dançar a rumba por dentro da urna
estender um pano negro e rubro sobre a tumba
antes o fim de ficar aquém
o amor em tal vez além de mim
Joshua Magellan
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