quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


Do outro lado do espelho

Duas mentes podem concordar ou discordar acerca de qualquer coisa. Mas, entre aquilo que elas pensam, vêem ou ouvem, não existe, nem nunca existirá, qualquer semelhança. Elas nunca se apercebem disso. Como poderiam, se a imagem que têm do mundo é sempre estável, assente na firme convicção do seu ponto de vista? O problema é que pontos de vista são sempre relativos, e as imagens que nascem de cada um deles são sempre diferentes. Achar que estamos a ver ou a ouvir a mesma coisa, é uma ilusão tão enorme, tão absurdamente gigante, só suplantada pela nossa vontade de que a ilusão seja verdadeira. E é essa fé que nos alimenta, esse autismo incomensurável, acreditar que os olhos e os ouvidos nos dizem o que está lá, aquilo que todos vêem.
Se eu mostro uma foto a alguém e pergunto se ele reconhece naquela imagem a pessoa que ambos conhecemos, ele vai garantir-me que sim, e eu poderei respirar fundo porque, afinal, também é aquela a cara que eu vejo. O que eu desconheço, é que a cara na fotografia é completamente diferente na representação que cada um fez da imagem.
Acreditar que os outros vêem o mesmo que eu, é jurar a pés juntos que eles vêem com os meus olhos. Insistir nisso, argumentar sobre isso, fazer prova disso, ainda por cima, para agravar a manutenção do erro, dar-me-á sempre razão. Porque aqueles que eu vejo, concordem ou não com o que eu digo, dão-me sempre razão. Eles são, independentemente do que me pareçam, uma visão minha, definitivos e dignos de total confiança.


DuArte

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