quinta-feira, 14 de abril de 2011


Uma questão de ciúmes

Foi durante um simpático almoço que recebi mais um consternar de dúvida, descrença e desconfiança (sim, assim tudo em conjunto) perante a revelação de que sou imune a ciúmes. «Isso é impossível» ou «isso é porque nunca gostaste de alguém a sério», são as respostas mais comuns a este estímulo verbal. Ora a palavra ciúme, vinda do Latim *zelúmen, de zelu-, que significa inveja, acaba por ser assim um dos sete pecados capitais. Ciúme é, e cito aqui o Dicionário da Língua Portuguesa, «inveja de alguém que usufrui de algo que não se possui ou que se desejaria possuir em exclusividade». E ainda «sentimento de possessividade em relação a algo ou alguém». E também «sentimento gerado pelo desejo de conservar alguém junto de si ou por não conseguir partilhar afectivamente essa pessoa ou sentimento gerado pela suspeita da infidelidade de um parceiro».

Devem julgar-me muito má pessoa para não acreditarem que sou imune a este pecado capital. Tenho outros, é certo. Não este... Mas aposto que se disser os que realmente me assistem, e como sou imune a este pecado tão comum devo ganhar créditos extra para os outros, haverá lugar a um coro de consternação global. Até parece que ser ciumento está na moda ou que é uma característica a valorizar numa pessoa. Oh sorte. De todos os pecados capitais aquele que é entendido como mais socialmente correcto é o que não me calha no quadro de referências!? Oh pontaria social.


Bruno Vilão