TIBI, O BARBEIRO DA CARVALHOSA
III
Gonçalves não podia responder. Aquela risca estava a trocar-lhe as voltas. Sentados no sofá, em fila, à espera de tosquia, três crianças da obra do senhor Padre aguardam. José é funcionário da Obra e todas as quartas-feiras leva os meninos necessitados para uma aparadela ao Gonçalves. Irritava-o a figura de Joaquim o pinante. Aquela linguagem perante as crianças era um excelente motivo para meter conversa.
- Agradecia que tivesse mais tento na língua. Se não for pelos outros, ao menos porque está na presença de crianças.
- Ai foda-se! – disse Jacinto, ainda antes de José ter terminado a última frase - Só me faltava esta! Queira desculpar-me mas as caralhadas também fazem parte da criação. Pergunte ao senhor Padre!
Os miúdos riam à socapa, sob o olhar grave de José. “Esqueceste-te dos demónios, cabrão” – Disse José para dentro, mais que arrependido por antes o ter dito para fora.
Gonçalves não estava ali. Muito curvado, parecendo ainda mais baixo do que aquilo que já é, de secador numa mão e pente na outra, batia-se com o cabelo rebelde de Francisco, filho bastardo de Ofélia, a única prostituta de Alfarelos.
DuArte
Sem comentários:
Enviar um comentário