CARTA DE DESPEDIDA
Às vezes tenho tendência para as
inseguranças, as incertezas, as imbecilidades, as infantilidades...
às vezes esqueço-me de que não tenho assim tão mau feitio e deixo
que me pisem. Mas hoje apercebi-me de que era hora de me tornar
visível. Vou deixar-te porque estou cansada da tua imaturidade, dos
teus jogos... Mas até lá vais perceber que, apesar do meu metro e
sessenta, uma pessoa é alta quando sente que é alta e está provado
que nos podemos sentir altos se olharmos para os outros de cima para
baixo, coisa que nunca me habituei a fazer.
Hoje acordei com a sensação de que
poderia, com facilidade, largar a minha vida sem fazer barulho e
meter-me noutra. Tudo no silêncio das seis horas da manhã e perante
uma total ausência de gravidade.
Tenho isto a dizer-te: és imaturo,
inseguro, indeciso e pouco empenhado. Não é que eu quisesse um
lambe-botas. Nem tenho nada contra aqueles homens que lêem nos olhos
das suas mulheres. Mas tu és impressionantemente atrofiado
emocionalmente.
Sei que o meu grande defeito tem sido a
minha total incapacidade de ser bruta, mas só até aqui. A partir de
hoje vou tornar-me, com a tua preciosa ajuda, uma verdadeira cabra.
Por isso, "get your tongue out of my mouth, I'm kissing you
goodbye".
Carmo Miranda Machado
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