quinta-feira, 16 de agosto de 2012



But... Why?

A ligação directa entre esta pergunta e o reino animal começa a fustigar-me. É abusivo. Já chega. Já percebi a ideia. Os animais permanecem na idade dos porquês e os humanos conseguem prever o futuro. Porreiro. Primeiro foi o desgraçado do sapo de uma fábula do meu imaginário infantil que, picado pelo raio do escorpião que tem tanto de falso na sua retórica como de verdadeiro na sua natureza, se encheu de dúvidas. «Mas, porquê?» Porquê o quê? Como porquê? Como haveria de acabar uma fábula que mete um sapo e um escorpião? Com juras de amor eterno? Com romance inter-espécies? Até bastava dizer «Era uma vez um sapo e um escorpião». E pronto. É essa a sua natureza. Ponto.

Depois foi um tigre no Ismael do Daniel Quinn que passava os dias às voltas na jaula a perguntar: «Mas porquê? Porquê? Porquê? Porquê? Porquê? Ele não consegue analisar a pergunta nem alargar-lhe o âmbito. Fica interminavelmente a perguntar o mesmo. «Se fosse possível perguntar à criatura: Porquê o quê?, ela não seria capaz de responder. E no entanto, a pergunta arde na sua mente como uma chama inextinguível». Que foi o que me aconteceu a meio do visionamento de "Encounters at the end of the World" durante a sessão de abertura do "IndieLisboa". Estava eu para ali sossegado a deleitar-me com o tom da narração e com as personagens do documentário e lá vai disto. Apesar do Werner Herzog sossegar as hostes logo de início, assumindo que não ia fazer um filme sobre pinguins, o sarcástico germânico não resistiu e lá aparecem uns quantos. E se mete bichinhos, estava mais que visto, tinha de meter a "stalker question", pois claro. Um baralhado pinguim captou a atenção do realizador quando se afastou do seu grupo e seguiu rumo às «distant mountains, to certain death, with a singular determination. But... Why?», e fica a questão em suspenso. O Herzog que me perdoe, que eu cá delirei com o documentário. Mas daí para a frente, o raio da questão ardeu na minha mente com a chama inextinguível do tigre do Ismael. O que é certo é que a pergunta me persegue. But... Why?


Bruno Vilão

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