quarta-feira, 17 de março de 2010

O meu amor é tão fraco perto do vosso. Fraco, fraco...

O meu corpo é fraco, a resistência é fraca, como fraca é a cabeça. Mais fraco, só eu quando estou fraco, porque levo mais um estalo. Olhos pequenos, pernas pequenas, pénis ainda mais pequeno. Até o escroto fica pequeno, tudo apertado lá dentro cheio de medo. Fraquejo tanto que dou pena. Hoje percebi mais uma das minha fraquezas - Gosto de mulheres com ar de doença, anémicas, jovens acamadas. Gosto de imaginar o que vai por baixo daquelas cobertas de tanto tempo. Imaginar que artefactos se escondem debaixo dos lençóis de flanela. Casas húmidas da serra, tristes de tanta pedra que se descobre das paredes. Teias de aranha fumadas pelo pão de milho que comemos com um sorriso falso nos lábios. Os pés quentes por estarem perto da fogueira: - Não mexas no lume que fazes chichi na cama! Já agora, nada como queimar um saco de plástico na lareira da nossa avó. Que saudades da estúpida ignorância. Como vêem, eu confesso tudo. Confesso ter gostado de uma serrana que os pais aprisionaram à cama na esperança de que isso os tirasse a todos da miséria. As romarias que se faziam ao fim-de-semana, as idas àquele sítio perdido no monte. Acesso por caminhos de lama. A soleira de pedra polida pelos passos. O quarto coberto de objectos de desejo: crucifixos à cabeceira. Fotografias de anjos a quem cedo cortaram as asas. A estátua da Nossa Senhora de Fátima, tão branca... em cima da cómoda, rodeada de notas de conto. Pagamos porque temos fé, de tão clara jovem ser santa. Não morre, não sabemos porquê. Não sabemos nada.
Fui pela mão da minha mãe perder-me naquele olhar branco e triste.
- Mãe... Podemos levá-la para casa?
Quis arrancar aquela menina da cama. Trazê-la comigo. Dar-lhe carinho. Mostrar-lhe que ser santa é mais belo do que ser pedinte, ainda que na ignorância tudo se compreenda. É tão triste a falta de esperança.
Ela não veio, mas ficou-me no sangue o desejo pela pele alva. Agora até as góticas me caem no goto. Pelo menos as que não usam botas de coxo nos dois pés. Detesto gente com a mania que é baixa; adoro a fraqueza da doença. Tanto, que me infiltro no Santo António para poder espreitar os quartos onde as mulheres convalescem, fracas, vulneráveis, de olheiras carregadas. Só lhes falta um batom vermelho. Uma cor garrida que lhes atire a pele para o tom de uma pálida Infanta.
Gosto da fragilidade. Se me aproveito dela? Aproveito. Elas também sabem que sou fraco. Fraco, fraco...


Duarte

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