segunda-feira, 7 de novembro de 2011

OS CINCO SENTIDOS - A AUDIÇÃO (IV)


Quando os sinos se dobram

Acordo e sinto o ar pesado à minha volta. Tento mexer-me e percebo que não consigo. O corpo não me obedece. A escuridão envolve-me. Não sei onde estou. Os dedos, consigo mexer os dedos das mãos e consigo ouvir, vindo de muito longe, o som de um sino. A escuridão continua imensa, impenetrável. Não há fresta de luz que a quebre. E ao longe, o sino. Tento lembrar-me de alguma memória antes deste acordar tão silencioso e solitário. Em vão. O silêncio assusta-me tanto como a minha imobilidade. Apenas o som do sino, lá longe, muito longe.

Junto ao minúsculo sino um bêbado ressona álcool, rodeado de garrafas vazias de vinho barato. O tilintar quase incessante do sino quebra o silêncio de morte tão característico daquele local. O bêbado acorda por alguns segundos e ouve o sino. Olha-o descrente. “As coisas que o vinho faz. Então o morto agora puxa o fio do sino!?”. Enroscou-se melhor junto à campa e continuou o seu alcoolizado sono.


Missanga

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