sexta-feira, 6 de janeiro de 2012


Vidas Vencidas

Para me vencer, passei por ser vulto moldado à imagem do velho mundo que inventaste para nós. Andei parado e tanso como um lapuz, andei incapaz de soltar a voz cativa. Mas, como sempre estive preso à rebeldia das revoluções, fui lambendo as feridas desertas susurrando a mim mesmo que um dia teria de acontecer um dia outro. Relembro agora o teu sacrário de dogmas sentimentais revisto e banalizado que me condenava nos nossos melhores dias de tédio. As tuas orações a um idealizado imobilismo passional davam-me a fé de acreditar que existia além outra vida, onde me bastaria viver a recordação para lá de tudo o que fomos, sentindo apenas o látego da consciência a fustigar-me a memória.

Não, nós não estávamos sós, nunca estivemos sós. A vida acontecia num palco à escala global de um salão: havia cadeiras vazias, havia cadeiras ocupadas por corpos ausentes e presentes, havia espectadores ensaiando uma conversação ao canto da sala. Representavam, displicentemente sentados em poltronas de atalaia, fumando uma pausa de conversa. Eram gente perdida na circunstância de estar apenas a ver passar a vida dos outros, só para se sentirem felizes com o menos-mal que eles próprios sofrem quando vêem alguém sofrer outro tanto ou mais. Às vezes, sentíamos pedaços de olhares, como cabelos intrometidos entre os beijos que emprestávamos ao carinho prometido e nunca incondicionalmente dado.

Afinal não estávamos afastados, estávamos ambos sós, lado a lado, seguíamos juntos e muito separados por vidas nada convergentes, por vivências muito paralelas. Sempre ao lado um do outro, sempre agarrados à esperança de não nos voltarmos a descobrir num qualquer cruzamento da estrada depois de nos perdermos do caminho um do outro.


Joshua M.

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