quarta-feira, 20 de junho de 2012

SETE PROSAS SURREALISTAS (II)



O mercador de palavras

Ameixa a dissolver na boca gulosa, derramado, um doce líquido se espalha, feito tinta coagulada.
A boca, pois, degusta outra fruta, do degustar contínuo cresce a fome descontrolada, de boca em boca, todas cheias, saem verborreias condicionadas, com convenção e política exatas. São postos, então, terno e gravata. Poderes estão sempre alimentados, saciados em prol do bem-estar do corpo social.
Dirigidos para decência do espetáculo, quando famintos, apurados os fatos, há sempre um condenado, bode expiatório, subordinado em flagrante autuado – o poder sempre quer mais sem mea culpa. Conjuga-se o verbo em qualquer tempo, apodrecidos os frutos, lançam-se novas sementes ao vento, o capital se apodera da poesia, da flor, do belo recolhido em pensamento.


Manuela Barreto (Brasil)

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