sexta-feira, 9 de novembro de 2012

PALAVRA EXPERIMENTAL (III)


Deixa-me pintar a Estação

Deixa-me pintar a Estação da cor que tu mais gostas e saltar de uma palavra para a outra como se não houvesse gravidade e dá-me um guarda-chuva para flutuar quando tiver de cair torna-te temerária e deixa-me torcer a realidade como quem grita e murmura por mais mas dá-me a liberdade para inverter o curso de um rio qualquer um qualquer mesmo mesmo aquele que menos te interessar quero rebentar como um fogo de artifício a preto e branco que era o que eu sempre devia ter feito rebentar como um fogo de artifício a preto e branco com um estrondo de outra dimensão e sussurrar muito baixo eu não quero implodir quero explodir quero explodir quero explodir para depois desatar a correr a correr a correr a correr a correr até os músculos estalarem e deixa-me fechar os olhos para ver mais claro do que sempre como naquele dia em que nos desvendámos todos os dias me deito sobre mim e todos as noites relembro Outonos daqueles cheios de nevoeiro e de chamas em estalactites a perfurarem os sentidos os mesmo que me obrigam a encenar uma falsa calma enquanto danço de testa franzida à espera de um milagre qualquer e todas as noites adormeço apreensivo ao som do bater dos relógios da minha mente deixa-me agora mergulhar numa palavra escrita a tinta permanente e borrar o papiro chinês como naquele filme sem argumento e sem palavra e sem imagem que é a maior lição da minha vida não pensar em argumentos palavras e imagens e apenas correr até ficar cansado e beber um copo de martini para matar a sede e continuar a correr a correr a correr a correr de um lado para o outro para baixo da cama onde há astros desalinhados e por mais que corra não sei se sou capaz só quero um pouco de paz


Bruno Vilão

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