sábado, 9 de fevereiro de 2013

Crónica Benzodiazepina


Celebrar a vida

Uma das coisas que me atrai na filosofia budista é a sua relação com a morte, o modo como vivem com a consciência de que ao nascermos iniciamos de imediato o percurso que nos levará a esse fim inevitável. No ocidente, a não ser que sejamos muito prematuramente confrontados com a morte, crescemos com a sensação de que esta é algo que só acontece aos outros, aos desconhecidos. Crescemos com a sensação de que somos imortais e sentimento só passa quando, por fim, vemos a morte acontecer perto de nós.
Para os tibetanos a morte é tão natural como a vida, é mesmo a sua continuação. Crescem sabendo que a vida é apenas uma passagem e pensar na morte é para eles tão natural como respirar. Consequentemente, valorizam a vida de um modo totalmente diferente. Vivem-na serenamente, alheando-se de mesquinharias.
No espaço de um ano perdi três pessoas muito importantes para mim. Não conseguirei nunca ter a postura da filosofia tibetana, porque não foi enraizada no meu espírito. Contudo, a aceitação, conseguir ultrapassar o desespero, ajuda. Não é fácil. Estas três mortes fizeram-me repensar muitos aspectos da minha vida. Saber que caminho para um fim, faz-me querer viver mais plenamente, mais intensamente. Não quero com isto dizer que preciso de viver tudo o mais depressa possível. Apenas que tudo aquilo que me proponho fazer, seja fruto de vontade inequívoca. Quando me voltar a apaixonar, mesmo já tendo experimentado o desalento e a dor, entregar-me-ei sem reservas a essa paixão e correrei os riscos que tiver de correr. Estou com os amigos e familiares que amo sempre por inteiro. Deixei de fazer fretes, porque simplesmente não me apetece. Quando algo ou alguém me faz infeliz ou magoa, reclamo. A vida tem de ser vivida por inteiro e não com medos e receios. Viver pela metade, com medo de sofrer, não é viver. Viver é celebrar, sempre.


Missanga


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