quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013


Se só o presente existe...

Se só o presente existe, então, todos os instantes, passados ou futuros, têm de estar a acontecer em simultâneo. Tinha piada se assim fosse, aliás, tal como acontece no cinema. No cinema a história aparece-nos no ecrã, mas aquilo que vemos são apenas sombras projectadas pela luz a atravessar uma película. A acontecer alguma coisa, foi antes, na cabina do projeccionista, e aí, já está tudo previsto. Se tivéssemos vontade, poderíamos pedir ao projeccionista, e ele mostrar-nos-ia que todos os instantes estão, desde logo, disponíveis dentro da bobine. Se quiséssemos, poderíamos ver o filme de trás para a frente, aos saltos, ou do meio para os lados. Não há nada que o impeça. Aparentemente, nos filmes, tal como na vida, a nossa escolha é a de que a história nos seja apresentada de forma mais ou menos linear.
Isto remete-nos para uma outra questão. Quando vemos um filme, apesar de termos liberdade para escolher o que ver em cada instante, ainda assim, não podemos fugir do seu argumento. Ou seja, a história é aquela e não temos como fugir dela. Para que a história fosse outra, teríamos de pedir ao projeccionista para trocar de bobine.
Voltando ao filme da minha vida, ao aceitar o presente como único tempo existente, arrisco também afirmar que, afinal, o livre arbítrio não passa pelo que decido fazer em cada instante, mas pela escolha da parte da vida que quero ver agora. A vida já está lá, do princípio ao fim. Para que o argumento da minha vida fosse outro, teria de ir algures à minha mente, trocar o sistema de pensamento que aceitei como meu, e mudar aquilo que não me canso de projectar. Sem isso, ainda que possa escolher o que ver em cada instante, a história de fundo será sempre a mesma. É uma seca. 


DuArte

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