sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Num pequeno mundo
Quim abeirava-se rapidamente dos trinta anos sem nunca ter, no sentido bíblico, conhecido uma mulher. Nunca sentira o toque suave da pele feminina, o calor de um abraço, o ardor de beijos apaixonados. Nunca vira desejo nos olhos de nenhuma mulher. Vira, durante toda a sua sofrida existência, piedade e nojo. Quim nascera com um sinal enorme no rosto. Cobria-lhe praticamente todo o lado direito da face. Inoperável, segundo os médicos. Todos se retraíam à primeira visão da grotesca mancha castanha. Depois habituavam-se. Ironicamente, a metade saudável do seu rosto era belíssima, pormenor que passava despercebido a toda a gente. Durante muito tempo os amigos até tentaram, sem sucesso, arranjar-lhe uma namorada. Depois levaram-no às putas para ser inaugurado mas nem o dinheiro valeu. Vive numa pacata aldeia da província e sente-se conformado com a sua condição.
Eurídice das Estrelas, filha de pais alienados, é desde muito nova defensora dos fracos e oprimidos e é também uma mulher linda que não tem a menor consciência da sua beleza. Em pequena, Eurídice era uma menina feia e desajeitada com quem quase todos os miúdos gozavam. Era perfeitamente alheia a essa maldade e crueldade para consigo e somente parecia notá-la quando era dirigida a outros mais fracos. Nessa altura abespinhava-se e se fosse necessário batia naqueles que ousavam meter-se com os mais frágeis. Na adolescência, Eurídice, o patinho feio transformou-se num cisne sem se aperceber. O seu grupo de amigos tinha todo o tipo de pessoas esquecidas pela vida. Um grupo estranho mas que fazia tudo por ela, como ela sempre fez tudo por quem precisava. Hoje em dia é professora primária e está de partida para uma pequena aldeia na província...
Missanga
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