terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Palavras Versadas
astronómico
quieto. eu estava quieto
de mãos inquietas enterradas no húmus
plantando pontos de interrogação como se mente
como quem mente ao destino
dentro do covacho transparente da vida
eu estava quieto, como uma empa desconforme
lembrando à pequena mimosa o seu lugar na terra
por vezes passeava um gato turvo nas folhas em volta
adivinhava nele uma nuvem, e isso transformava-me
numa orelha imaginária, melhor, num nariz à escuta
à espera que um alvoroço súbito pingasse
estar quieto, quase inânime, o meu ofício
quando projéctil te desferiste na minha direcção
e chegando vieste gravitar em redor, a exalar
partículas cósmicas do beijoim, lúnulas perfeitas
da sua goma centrífuga, arqueando-se até mercúrio
a tua raiz tocou-me com a frieza da inevitabilidade
perguntei: aonde vais perfume?
lembra-me vagamente um foguetão nas tuas pernas
antes de partirmos para o espaço, lembra-me
a finita incerteza no rastilho estelar da pele
a certeza infinita que dissolve o hímen de todas as galáxias
perguntei: já chegámos?
assim plantámos uma órbita — não tínhamos terra, apenas
o solo possível dos astros, o seu luzimento inséctil
— desde a ápside, até nos bastarmos sem mais planetas
Bill enGates
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