Conta-me estórias
Finalmente (só porque
não me apetece estórias de era uma vez, desta vez) um Sapo
preparava-se para atravessar um rio a nado quando um Escorpião, de
tom ligeiro e suave, o abordou: “Bom dia caro Sapo. Vai para a
outra margem? Será que me podia levar nas suas costas? É que eu não
sei nadar”. Ora o Sapo apressou-se a compensar a falta de
celeridade motora com uma rapidez de raciocínio estonteante: “A
fama dos Escorpiões precede-vos. Sei bem do que são capazes e não
sou assim tão ingénuo. Não quero ser picado”. Mas o Escorpião,
está bom de ver, não se deteve. Desempoeirou as armas de sedução
massiva, vestiu a pele de cordeiro e apelou à lógica e ao
raciocínio apurado do Sapo: “Eu nunca faria tal coisa caro Sapo,
pois se o fizesse enquanto estava nas suas costas, morreria também
afogado”. Perante tal argumento anti-falacioso o Sapo acedeu ao
pedido do Escorpião. Tinha o Sapo dado não mais de quatro braçadas
e já o Escorpião estava de espigão em riste, pronto a picar
mortalmente o desgraçado. Enquanto os dois se preparavam para se
afogarem, o Sapo, incrédulo com a ilógica atitude do Escorpião,
pergunta: “Mas... Porquê? Assim também vais morrer”. E lá
responde o Escorpião: “Porque é essa a minha natureza”.
Bruno Vilão
Bruno Vilão
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