Rendição
Há algum tempo atrás assisti a um
espectáculo no bar do casino de Lisboa que me agradou imenso. Era
uma espécie de dança do varão mas em que este era flexível,
estava suspenso no tecto e tinha uma argola tipo hula-hoop na ponta
inferior. A menina, vestida somente com uma tanga, subia por ali
acima, fazendo muitas acrobacias com a argola, acrobacias que exigiam
uma força muscular e uma coordenação de movimentos espantosa. A
qualquer momento podia despenhar-se lá de cima. A miúda tinha jeito
e era bastante expressiva. Pareceu-me uma mistura de dança do varão
com artes circenses. O que eu gostava de conseguir fazer aquilo mas,
infelizmente, as minhas aulas de ginástica acrobática, já
pertencem a um passado remoto e as de dança do ventre não chegam
para tanto.
Voltando ao espectáculo: adorei o
final. O varão desceu lentamente com a menina sentada em cima das
pernas e apoiada somente pela dobra de um dos braços no aro, de
cabeça inclinada numa pose de completa rendição. Ou, pelo menos,
foi assim que senti. Tocou-me aquele desfecho. Revi-me nele, naquele
absoluto abandono, o mesmo que sentia nos braços de alguém que
pouco tempo antes tinha deixado de fazer parte da minha vida.
Missanga
Sem comentários:
Enviar um comentário